Bem Vindo ao Blog de Fco. Santos - PI 551ez

Bem Vindo ao Blog de Fco. Santos - PI
Mate a sua saudade da Nossa Terra

DÔE PARA O BLOG DE FRANCISCO SANTOS - PI 6h5q4d

sexta-feira, 1 de julho de 2011 465g1t

Poema em cordel do escritor João Bosco da Silva 2g4s3c


POEMA CORDEL "AS HERALDÍADAS"



A T O S



Anteato



Ato 1.


- No Tempo de “Brasil Grande”


- O SONHO DA CASA PRÓPRIA OU A


OITAVA MARAVILHA DO MUNDO MODERNO


ATO 2.


- No Tempo das “Vacas Magras”


- CASA DE CONJUNTO OU O “NINHO DE POMBO” DO B N H



Ato 3.


- No tempo da Carestia


- MUTUÁRIO INADIMPLENTE OU VIGIA DO B N H





A n t e a t o



Identificação



Me chamo Heraldo da Silva.


Sou brasileiro, bancário,


casado, pai de seis filhos,


de caráter multifário,


um ser sempre em mutação,


sonhador, visionário.



Conforme se depreende,


minha identificação


traz em si vício de origem


de enorme contradição:


- se Heraldo é bronze de nobre,


Silva é marca do povão.



Muito embora minha mãe


jamais tenha esclarecido,


suponho que algum fidalgo


ao erro a tenha induzido,


e Heraldo seja homenagem


ao meu pai desconhecido.



Apesar de ter nascido


sem berço e sem tradição,


minha santa mãe me deu


estudo e educação,


que lutar me permitiram


por melhor situação.



Mal vi o tempo ar,


com livros sempre envolvido...


Mas, de repente, o menino


agora estava crescido...


Só me dei conta do fato


com o ginásio concluído.



Foi então que apareceu,


do rádio em noticiário,


para um banco oficial,


concurso de escriturário.


Me inscrevi. Lutei. ei!


E assim me tornei bancário.



A T O 1.



O Sonho da Casa Própria ou a Oitava


Maravilha do Mundo Moderno



A vida correndo os trilhos


do tempo na sintonia,


aos poucos me foi levando


a natural alegria;


coloquei os pés no chão


pra viver o dia-a-dia.



A classe média de outrora,


folgazã e apetecida,


logo ou a sofrer


o alto custo de vida;


sem poder de aquisição,


tornou-se massa falida.



Em tempos assim bicudos,


não havia atenuantes;


os salários achatados


e os preços acachapantes


- comida, roupa, remédio


e os aluguéis escorchantes.



Dentre todos os vilões


daquele triste fadário,


o aluguel despontava


cruel, mas prioritário,


levando mais da metade


do corroído salário.



Premido por aperturas,


sem saída e sem opção,


sempre a mudar de endereço,


feito ave de arribação,


optei pela casa própria


como a melhor solução.



Decisão assim tomada,


busquei dar-lhe cumprimento;


nos órgãos oficiais


tentei financiamento,


até em bancos privados


procurei atendimento.



Premissa posta e assente,


o nó górdio da questão


era agora financeiro,


pois minha situação


de apertura me deixava


peado do pé pra mão.



Não dispunha, no momento,


para o projeto em enfoque,


de qualquer recurso extra:


- material em estoque,


terreno, poupança, “grana”,


sendo esta a pedra de toque.




Por meu banco a prestação


ficava muito elevada;


pela Caixa, não dispunha


dos dez por cento de entrada;


nem mesmo dinheiro havia


pra tirar a papelada.



Mas como sou persistente


e impertinente até,


pensei: tenho meus amigos,


e seja o que Deus quiser;


pois Ele é o meu timoneiro,


meu esteio e minha fé.



Um colega meu de banco


possui terreno ideal;


vou palavrear com ele


a transferência legal


e acertar o pagamento


num esquema quinquenal.



No tocante a dimensões,


não sou lá muito exigente;


o terreno do colega


é mais que suficiente:


- dispõe de cascata e lago


e um riacho permanente.



Quanto a casa propriamente


(dizem os croquis provisórios):


salas-de-estar na asa norte,


na sul, quinze dormitórios,


suítes particulares


e o conjunto de escritórios.



Não é preciso que a casa


tenha status de mansão,


basta apenas ter espaço


que me dê locomoção


e permita um bom relax


nas horas de afobação.



No tocante a acabamento,


não é coisa muito cara;


a casa é bastante simples,


moderna, porém avara,


com assoalho de mármore


importado de Carrara.



Basculantes e janelas,


portas, fechos e gradis,


luminárias, candelabros,


móveis todos no verniz,


com as paredes internas


revestidas de lambris.


Para o clima tropical


quente e seco do sertão,


vou montar uma central


de ar, com dupla função:


- se faz frio, o exaustor;


se calor, condensação.



Os períbolos e pérgulas


serão, pois, acalçadados


de pedras à portuguesa,


com motivos desenhados;


jardins suspensos, floridos,


e parques arborizados.



Piscinas, fontes termais,


são projetos pra depois,


porque tenho de erigir


não um prédio, porém dois:


- não quero ser um mau filho


nem de minha mãe algoz.



Se não vejam o que mamãe


diz, coberta de razão:


“Meu filho, a pessoa velha


só traz atrapalhação,


por isso na sua casa


não convém que eu more não”.



Amigos meus que me leiam,


compreendam, por favor!


Eu não sou visionário,


um poeta e sonhador:


apenas quero um palácio


à Nabucodonosor.



Não importa a situação


que me aflige atualmente,


porque eu, como o Brasil,


uma potência emergente,


vou continuar tentando


o sonho grandiloqüente!



Tudo é grande, tudo é belo!


Quem não crê nisso é um tolo:


aí está o futebol


e a Taça como consolo;


aí está o “Milagre”


fabricando o “Grande Bolo”!



No país tricampeão,


arde uma chama votiva,


em que esperança e otimismo


mantêm cadeira cativa,


permitindo a cada um


sonhar com a “Esportiva”.



O teste quarenta e quatro


fez brasileiro sonhar,


cada um com mil projetos,


prontos para disparar;


eu mesmo, com meus dez sócios,


ia pro Rio embarcar. *



Fui dormir feliz da vida,


pensando com meus botões...


Mas aí a má notícia


desfez as vãs ilusões:


havia mais ganhadores


que o prêmio de 100 milhões...



De qualquer forma, melhor


do que aluguel pagar,


era ter a casa própria


pelo tal B N H;


vinte anos era o prazo


para eu me aposentar.



* Nesse tempo, o pagamento das apostas da Loteria


Esportiva ainda era feito no Rio de Janeiro.



A T O 2.



Casa de Conjunto ou o


“Ninho de Pombo” do B N H



Eu desejava uma casa


bem ampla, bem arejada,


num terreno bem maior


do quem u’a milha quadrada,


para ali plantar meu sítio


e ter a vida sossegada.



Os meus desejos e sonhos


já foram bem detalhados;


só lamento os ver apenas


em parte realizados,


porque dos originais


estão bem distanciados.



Pois finalmente vou ter


minha casa construída,


uma pena que não seja


como a sonhei erigida;


mas como está já me serve


de refúgio e de guarida.



Onde o mármore importado?


Onde os brilhantes lambris?


Onde os roseirais vistosos


rodeados de gradis?


E as árvores frondosas,


onde cantam os bem-te-vis?



A ala sul foi pro norte;


a do norte, qual o fim?


Onde as câmaras de banho


e o enorme camarim?


Onde os salões de bilhar,


de esgrima e espadachim?



E os campos de futebol,


de golfe e basquete, e as pistas


de corridas de cavalos,


de memoráveis conquistas?


E o lago de águas tranqüilas,


imenso, a perder de vistas?



Fui sempre irador


de palácios e castelos,


solares e sobradões


vistosos, caros e belos!


Possuí-los sempre foi


o maior dos meus anelos!



Os palacetes de França


- L’Etat c’est moi - Luízes,


o poder e a sedução


em seus diversos matizes,


deixando nos corações


as mais fundas cicatrizes...



A humana contradição,


em que a intriga era a vinheta:


- Luiz XV indo às caçadas,


Richelieu na mutreta,


os amores e as futricas


de Maria Antonieta!



Casteletes d’Inglaterra,


de fantasmas povoados;


a Agatha Christie inventando


os personagens amados:


- Miss Marple, Poirot,


majores aposentados!



Também a gótica arte


que se vê noutros países;


catedrais, torres nos céus


como a indicar diretrizes...


China e Japão a mostrarem


os seus diversos matizes...



Quero crer que o sangue nobre,


que correr em mim suponho,


deixou-me o refinamento


e esse espírito risonho,


nobreza e galanteria,


e a tendência para o sonho!



Para quem, como eu, sonhou


com fontes termais e banhos,


com piscinas e jardins,


e vãos e vãos sem tamanhos,


só resta me lamentar


a carência dos meus ganhos.



Eu, tão pobre entre os colegas


de minha classe escolar,


todos bem alimentados,


casas boas pra morar...


Só me restava o consolo


de olhos abertos sonhar!!!



Depois... adulto e bancário


- “Carreira de bom futuro!”...


seguiu-se a perda de status


e o tal de emprego seguro...


Só restando à pobre classe


apenas trabalhar duro.



Hoje, o meu sonho mais caro


de palacete ou mansão


sumiu como por encanto


nas asas da inflação,


só me ficando o acredoce


sabor da desilusão.



Tornei-me um desalentado,


em que a paixão já não viça;


porém ter a casa própria


tornou-se a arma de liça


contra o locador que tem


a alma negra da cobiça.



Por isso com novo arrojo,


e após pesar bem o assunto,


com meu sonho já desfeito


qual as cinzas de um defunto,


me decidi pela compra


de uma CASA DE CONJUNTO.



O meu caso, companheiros,


é bastante singular:


desejei ter uma casa


fora do padrão vulgar.


Não deu certo, paciência!


O remédio é esperar.



Esperar um melhor tempo,


mas continuar sonhando;


por ora, adoto o provérbio


do povo, filosofando:


- “mais vale um pás’ro na mão


que dois pássaros voando”.




A T O 3.



Mutuário Inadimplente ou


VIGIA DO B N H



No tempo de “Brasil Grande”,


em que tudo era euforia,


o verde fluindo farto,


redimindo a economia,


ser pessimista era um crime


que o civismo coibia.



Não havia que fugir


desse sonho condoreiro,


era, de ponta-cabeça,


mergulhar de corpo inteiro,


dançando no mesmo ritmo


do “Milagre Brasileiro”.



Dessa forma, decidi,


seguindo a pátria cartilha,


construir um palacete


adequado pra família,


conforme já foi descrito


na “Oitava Maravilha”.



Ocorreu que, nesse tempo,


apesar da existência


dos abundantes recursos


nos sistemas de assistência,


me encontrava, simplesmente,


num estádio de pré-falência.



Desse jeito, endividado,


com meu sonho já defunto,


tive de mudar os planos,


não antes de pensar muito,


e me decidi comprar


uma CASA DE CONJUNTO.



Após a compra, eu achei


que deveria mudar


a aparência da acanhada


casa do B N H.


E com um afã todo meu,


comecei a reformar.



“Papagaios”, agiotas,


RECON e todos os meios


usei, até conseguir


(apesar dos aperreios)


aproximar minha casa


à dos velhos devaneios!



O tempo ou e tudo


começou a correr bem:


melhorei nos meus empregos


e minha mulher também.


Nos anos 80 entramos


sem dever nada a ninguém.



Mas a crise financeira,


que assola o mundo confuso,


insinuou-se entre nós


tal como um ladrão intruso,


fazendo o nosso “Milagre”


desabar em parafuso.



Crise do petróleo e outras


seguindo nos calcanhares,


nosso sonho de potência


como pluma pelo ares,


cofres agora vazios


com a ausência dos doláres.



Igual a um balão de ensaio,


que se rompe e cai no chão,


também foi pro “beleléu”


a promessa do J-o-ã-o, [1]


que era de bem encher


a a do p-o-v-ã-o ! ! !



Nada disto aconteceu,


só dor e decepção:


os arrochos de salários


justificando a inflação,


e a classe média perdendo


o poder de aquisição.



Assim foi que o sonho azul


de tantos foi pelo ar;


meu sonho de casa própria


terminou por se acabar:


pois a sua prestação


já não posso mais pagar.



Entre todas as opções,


que os Andreazzas [2] montaram,


nenhuma serve aos milhões


que a casa própria compraram...


E assim suas esperanças


- como o sonho! - se acabaram...



Eu, como sou persistente,


ao ministro vou propor


ficar na casa servindo


de v i g i a e zelador,


até que o B N H


lhe encontre algum comprador.



Aqui se despede Heraldo,


pai de família vencido;


mais um bancário quebrado,


cansado e desiludido...


Mataram-me as esperanças,


neste país corrompido.




* * *



... De repente, quebrando o silêncio da manhã, um estampido no ar. As pessoas, curiosas, saem às portas, indagando: “ O que foi, o que foi">

quarta-feira, 22 de junho de 2011 4g1x4n

Artigo sobre o livro inédito de Chico Miguel - O Menino Quase Perdido 4a6o2u

O Menino Intemporal


Maria Helena Ventura*



Dobrar as páginas de O Menino quase Perdido, do escritor, crítico, ensaísta Francisco Miguel de Moura, é desembrulhar um cordão luminoso de memórias coadas pelo tempo, numa viagem ao espaço emocional da Infância.


Pelo caminho de regresso a esse útero materno, o autor varre a poeira das lembranças tristes, uma tristeza imprecisa e doce, em busca de um matiz que estando gasto, consegue ainda colorir, como nenhum outro, paisagens monocromáticas.


Com ele descobrimos as cores, os cheiros, as vozes, e mais que tudo os afectos que fortalecem a personalidade. Porque as trinta e cinco narrativas, num discurso livre da rigidez de formatos, de um realismo salpicado de ternura, são unidas por um cordão de emoções.


Com uma singular capacidade de retirar o invariável, a matéria constante, da variedade de experiências, como faria Lévy-Strauss, nunca o ressentimento mancha as palavras de Francisco Miguel de Moura nesta busca de sentido para os desvãos do tempo, desde que era menino até à eternidade de crescer. A ponte que une presente e ado é o Amor, um Amor transfigurador, fortalecido pela vontade do autor o identificar até nos piores momentos.


A rigidez do pai é entendida como função de todos os pais coevos, absorvidos pela obrigação de providenciar o sustento; a doçura da mãe não se dilui nas chineladas merecidas pelas tropelias, será sempre lembrada com um coração de anjo. E até os beliscões do primo Zezinho são perdoados à luz da sua pouca idade para o carregar, logo compensados por lampejos de ternura quando revisitadas as histórias de caçadas sentado nas pernas do avô Sinhô do Diogo.


São esses instantâneos que perduram, embrulhados na mesma gratidão por todos os que ajudaram na travessia de rios tormentosos. Por isso o menino ainda mora no coração do escritor. De mão dada com ele, em busca da nossa própria infância, recuperamos o espaço da inocência por um processo de alquimia literária, conscientes da urgência em retroceder reflexivamente até ao refúgio primordial, à fonte onde bebemos um sentido antigo, quase inconsciente, para as escolhas urgentes.


Agora domesticado o medo, e porque acreditamos no que escreve, cruzamos as veredas até Morro Pelado, Curral Novo, arredores de Conceição. E avistamos no altiplano a casa de taipa coberta de telhas, o rio serpenteando lá em baixo, os pés marcados na areia, os plantios na vazante do Guaribas.


Vislumbramos ainda a escola improvisada à sombra do juazeiro, as brincadeiras de faz-de-conta sob a frescura das mangueiras, o horizonte raiado de vermelho no morrer da tarde, para lá da mancha verde do capim.


A magia da escrita de Francisco Miguel de Moura é mesmo essa, conseguir levar-nos pelo tracejado das próprias memórias, saudando pelo caminho gerações de mortos que nunca hão-de morrer, até às paisagens eternizadas no silêncio do coração.


No fundo dessa tessitura de palavras e afectos, descobrimos ainda a integridade do homem menino que um dia plantou tabatinga sem saber que viria a colher poesia, reconhecemos a salutar curiosidade de um intelectual que, tapando os buracos da existência com respostas, vai escavando outros buracos, mais perguntas para responder, construindo ao lado montanhas que não se nega a escalar.


O Menino quase Perdido é ainda um ponto de partida para vários reencontros com o talento literário de Francisco Miguel de Moura. Todas as dimensões da escrita ele domina. É o cronista, o relator de experiências esmaecidas pelo tempo. Recuperando depois o material moldado pelo afecto, transforma-o em contos de saboroso recorte, deixando adivinhar o ficcionista que, ao uni-los pela mesma metodologia com que se elabora um álbum fotográfico, estrutura mais tarde uma narrativa em jeito de romance. A personagem principal é o menino Xico em evocação das lembranças, com veneração por parentes e lugares. Daí que a narrativa seja levada até ao leitor com a chancela de um memorial.


A capacidade de descrever experiências e paisagens, inventar mundos, reinventar caminhadas, não apaga a candura do menino intemporal, que recupera o ritmo bíblico da primeira infância à flor das emoções. Essa candura, que emana de tanta sensibilidade, assentou morada neste ser humano de grande dimensão sem sofrer a erosão do tempo. Como diria Pessoa, que a vida por mim e, logo que eu fique o mesmo. E o menino Xico ficou.


Saúdo o seu talento multifacetado, o seu espírito generoso e aberto a tudo o que o rodeia. A Terra é um lugar melhor com pessoas como Francisco Miguel de Moura, residente em Teresina, lá onde o céu deve alcançar.



16 de junho de 2011 - Carcavelos, Cascais, Portugal


_________________________


*Maria Helena Ventura, Escritora, membro da Associação Portuguesa de Escritores, da Sociedade de Geografia de Lisboa e da IWA – International Writers and Artists Association, Toledo, OH, Estados Unidos